quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Monte Santo: a fé na terra que inspirou Glauber Rocha




Nem todas as viagens que eu fiz foi para o exterior. Rodei um bocado aqui mesmo pela Bahia em meus tempos de reporter, e um dos lugares que mais me impressionou foi Monte Santo. O sertanejo é antes de tudo um forte, disse Euclides da Cunha em Os Sertões, e no agreste baiano, a força do sertanejo vem da fé. Em meio a um cenário tipo “até o fim do mundo”, o santuário de Monte Santo, cerca de 500 km de Salvador, atrai devotos dos mais diversos pontos do estado que, todas as sextas-feiras santas, refazem a Via Sacra lembrando os últimos momentos da vida de Cristo.



Na semana santa, a cidade fica lotada. Quatro horas da manhã. Barulhos esquisitos acordam o forasteiro em plena madrugada. São as matracas, instrumentos de percussão, que acordam a cidade. Sua musica esquisita significa que está na hora de subir o morro descoberto pelo Frei Apolônio de Todi, no século XVIII e refazer os passos de Jesus. Lá no alto, as imagens do Senhor Morto e de Maria esperam os fieis para descer em procissão umas cinco ou seis horas mais tarde. Monte Santo é uma cidade pequena, pobre, com o pior índice de analfabetismo do estado da Bahia, e sequer lembrada como centro de turismo. Somente na Semana Santa é que recebe os romeiros, muitos deles vindos de cidade próxima.

O cenário é exótico na região. O típico agreste baiano com muitas espécies de cactos, arbustos, algumas arvores maiores. Nesse cenário, famílias e mais famílias de lavradores lutam contra a seca para garantir seu pão de cada dia. Perdido na caatinga, o frei italiano achou semelhanças entre a Serra de Piquaraça, que passa nos limites da cidade, e o Calvário, onde aconteceu a crucificação. Desistiu de procurar a paróquia para a qual foi destinado, ficou por ai e construiu as 25 capelinhas representando as estações da via sacra, e três delas maiores dedicadas ao Arcanjo Miguel, Nossa Senhora das Dores e Santa Cruz, ponto final da caminhada no alto do morro.



Ervas e lendas


O interior parece não se contaminar por mordenismos high-tech e algumas lendas e tradições resistem às viradas de século. Uma delas é a de pegar velas acesas na capela do arcanjo Miguel e guardar em casa. Em noite de trovoada, acender essas velas será garantia que nenhum raio vai cair em casa. É isto o que fazem senhoras mais idosas, as que fazem a caminhada no seu próprio ritmo, ou as que simplesmente acreditam que “o que vale é a intenção” e simplesmente sobem apenas algumas estações esperando a procissão para descer com as imagens. Uma delas contou que “minha filha é agoniada. Quando roncava trovoada que cai os coriscos, ela ficava azuadinha. Me ensinaram para acender a vela de São Miguel. Eu acendi e ela nunca mais se agoniou”.

Outras pessoas catam ervas e enumeram seus poderes mágicos e/ou medicinais. Uma serve para “afugentar coisa ruim”, outra serve para “curar espinhela caída”, tem as que baixam feres, curam dores, etc. Todas crescem no morro por livre e espontânea vontade da natureza e a mulherada da região, especialmente as mais velhas, juram que esta é a prova, “que deus andou por aqui mesmo”. Pode ser ou não. O frei comparou o morro ao Calvário, mas o sofrimento lá é humano. Professores, há três anos, recebiam apenas R$20,00 de salário. Como os poucos professores graduados do local se filiaram à instituição da classe, o governo resolveu bloquear os salários. Há dois anos eles ainda brigavam na justiça para receber os atrasados, mas, surpreendentemente, continuavam dando aulas.

O transporte mais visto por lá ainda é o pau de arara, e é nas carrocerias de caminhões que crianças e adolescentes vão a escola, numa cortesia da prefeitura municipal. Claro, não há segurança, e os motoristas simplesmente voam pelas estradas muitas delas sem asfalto. Turismo, zero a esquerda. Não existe infra-estrutura. Mas, intelectuais e estrangeiros se sentem atraído pelas histórias que cercam o lugar, e numa dessas, Glauber Rocha fez de Monte Santo cenário de seus filmes. Uma estátua de Antônio Conselheiro lembra que o líder de Canudos andou por lá. E é tudo. A cidade gira em torno da espera pela sexta-feira da paixão, e depois que a procissão desce, tudo é permitido. A vida volta ao normal e jovens e adolescentes sentam-se nos bares para tomar uma cervejinha rompendo o aleluia por conta própria. “Subi ao morro, rezei, voltei. Paguei meus pecados e agora estou com lucro até o ano que vem”, dizem os rapazes, sinal de fé para quem “pena” o ano inteiro na terra do sol.

Poltergeist, enquanto não é tempo de procissão

Dizem que foi por causa da guerra de Canudos. Pode ser, pode não ser, mas o fato é que histórias fantásticas rondam a região entre Uauá, Canudos, Euclides da Cunha, Monte Santo, Massacará e outras cidades. São casos estranhos, como o de uma mulher que mora em uma cidade e ouve tudo o que conversa na outra. A história de um menino que teria desencadeado poltergeists no sítio dos pais, e rios secos que jorram sangue em Canudos.
Claro, se alguém perguntar, ninguém sabe, ninguém viu e tudo morre no “dizem, mas eu não sei não.
Um dos casos ganhou destaque a nível nacional ao ser apresentado no Fantástico, Rede Globo, e aconteceu em 96. Num povoado próximo a Euclides da Cunha, 38 km de Monte Santo e 470 km de Salvador, colchões foram queimados misteriosamente, visitantes receberam pedradas, e ovos apresentavam sangue em vez de clara e gema ao ser quebrado. O fotografo Walter Carvalho percebeu vultos ao entrar na casa assombrada, e a repórter recebeu um puxão no cabelo. Antes disso, o prefeito da cidade por pouco não foi atingido por pedras atingidas pelo “espírito”.
Segundo os moradores locais, era Romãozinho. O espírito de um menino do mal que se manifesta, de tempos em tempos, em famílias esquisitas. “O tio é casado com a sobrinha, ai Romãozinho está castigando”, diziam os moradores próximos. Um garoto de 13 anos, filho do dono do sitio, seria o epicentro do problema (o médium que desencadearia o fenômeno) segundo os diversos espiritualistas, religiosos e parapsicólogos que foram pesquisar o fenômeno. A igreja católica não se manifestou. O padre disse na época que não havia necessidade de ir até lá, “é tudo imaginação”. Mas, o povo contra-atacou: “ele está é com medo”.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Imagens de minha cidade


A Associação Comercial não é turística, mas é um belo prédio do Comercio, no que chamam Cidade Baixa.


Ligar Bahia ao Farol da Barra parece óbvio, mas é exatamente do Farol da Barra que eu me lembro quando falam em Salvador. È ele que eu procuro quando chego de viagem de avião ou navio. É sinonimo de Bahia.


O pequeno Forte de Santa Maria é um dos dois fortes que marcam os extremos do Porto da Barra, marco zero da cidade. O outro é o Forte de São Diogo. Santa Maria é um forte simpático, com jeito de residencia. Se eu fosse do governo, transformava em alguma coisa. Quem sabe, um cerimonial.


Os coqueiros de Itapuã foram imortalizados em música. Sobraram poucos depois que itapuã deixou de ser um bucólico bairro de veraneio para se transformar num féerico bairro com residencias e comercios. Esses coqueiros ficam em Piatã, bairro vizinho lotado de condomios fechados.


A velha igreja do Rio Vernmelho ia ser derrubada. Não foi, foi preservada, está lá no meio da praça. Bel Borba construiu um megacacho9rro e colocou lá. Ficou maneiro.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Imagens da Tunisia


Com parte de seu territorio no Saara, a Tunisia reserva surpresas para os turistas. Areia e palmeiras se intercalam. Dunas de todos os tamanhos. Vegetação rasteira. Frio de rachar no inverno e calor extremo no verão. Essas palmeiras ficam perto do centro de visitação nos arredores de Douz, uma cidade-oasis na entrada do mais famoso deserto do mundo.


Outra surpresa tunisiana é o lago salgado de Chott el Jherid, um dos "chotts" encontrados no deserto. Este lago seria parte de um mar interior que foi secando ao longo dos tempos. A paisagem é simplesmente fantastica. Deste lago se retira sal consumido em vários paises europeus,. Para atrair os visitantes, fazem-se esculturas na areia. Na beira da estrada, camelôs vendem monte de quinquilharias entre as quais a rosa do deserto, uma escultura feita com areia cristalizada.


Outra surpresa do deserto é ver o por do sol de um dos muitos (e realmente bons) hoteis do pais. Tozeur, um oasis bem no meio do Saara e estrategicamente perto de vários pontos turisticos como Nefta, Sbleita, Chebika e Tamerza, vem se tornando um polo importante com resorts de primeira. Ver o por do sol de um deles, realmente, não tem preço.


A herança cultural da Tunisia reune berberes, árabes, gregos, fenicios, romanos. A presença romana no norte da Africa, aliás, é forte em vários países. Na Tunisia, alem de Cartago, há o El Jhem, um anfiteatrp no estilo do Coliseu romano, tem Sbleita (foto acima) uma grata surpresa bem no meio do caminho entre o deserto e o litoral.


O conjunto de templos romanos no que foi o centro da cidade antiga de Sbleita é uma verdadeira joia e está bem preservado. Uma miniatura dessa cidade tambem pode ser vista no museu do bardo em Cartago.



Tijolinhos aparentes formando lindos desenhos geométricos. O país é pobre, vive da agricultura, do turismo, o comercio acontece meio desordenadamente em camelôs e feiras e em meio a muita pechincha, mas a arte é rica. O cross-over entre tantas culturas (aborigenes, orientais, europeus) resultou em belos detalhes como a arquitetura de Tozeur e outras cidades do deserto.


O turismo traz boas divisas. O Brasil tem enviado grupos regulares ao pais no nosso verão, quando lá é inverno e a temperatura é mais amena. Mas os europeus arriscam idas mesmo no verão quando chegam a ser registradas temperaturas sufocantes de mais de 50 graus (em Matmata, o povo vive em cavernas justamente para poder suportar o verão). Bons hoteis, tanto de megarredes internacionais, como locais, podem ser encontrados até em meio ao deserto. Com toda infraestrutura - piscinas cobertas e descobertas, academias, restaurantes e até boites e teatro.



Perto da fronteira com a Argélia (que é fechada aos estrangeiros) ficam pelo menos dois oasis te montanhas que valem a visita: Chebika e Tamerza. São absolutamente lindos. Tem encosta, palmeiras, nascentes, pássaros e historias curiosas: um deles foi destruido por uma enchente!!!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sevilha - uma bela velha cidade

Passei em Sevilh algumas horas. È pouco, muito pouco. Mas eu estava em um ceuzeiro maritmo, o navio para em Cadiz (uma bela cidade andaluza), navio tem hora pra chegar e hora pra partir e o jeito foi correr pra ver, pelo menos o principal da cidade, a quarta maior da Espanha, perdendo apenas para Madrid, Barcelona e Valencia. A cidade tem mais de tres mil anos de historia e o resultado da influência de diversos povos que passaram por lá (romanos, bárbaros, arabes, etc) pode ser visto em monumentos, centro histórico, torres, igrejas e outras construções.


Em Sevilha, becos como esse da foto acima (eu adoro um beco por mais que eles pareçam misteriosos) estão em todo o centro histórico e em uma de suas principais atrações, a Juderia, ou bairro judeu. Sevilha foi fundada pelos tartessos, concretamente os turdetanos, cerca do século XIII a.C., com o nome de "Hispal". Depois foi ocupada pelos fenícios e cartagineses. Depois passou pelos romanos, visigodos e mouros, que lhe deram o nome de Ishbiliya (árabe أشبيليّة) que derivou depois em Shbiya para terminar no nome atual. Nesta época a sua riqueza cultural cresceu enormemente pela cultura árabe, em tanto que tinha dependência do Califado de Córdoba convertendo-se na mais importante de Al-Andalus. Foi capital dum dos reinos de taifas mais poderosos desde 1023 até 1091 governado pela família dos abádidas. Na época almóada construíram-se a Giralda, o Alcázar e a Igreja de São Marcos. Entre finais do século XI e até meados do século XII assentaram-se os almorávides na cidade, uma época muito boa para os negócios e a arquitectura. Os cristãos reconquistaram a cidade em 1248 durante o reinado de Fernando III de Castela.


Sevilha é banhada pelo Rio Guadalquivir. O nome é complicado justamente por ser uma herança dos mouros. Mas é um rio largo, bonito e belas pontes ligam os dois lados da cidade. O clima de Sevilha é mediterrânico, com influências continentais. A temperatura media anual é de 18,6 °C, o que faz desta cidade uma das mais quentes de Europa. Os invernos são suaves. Janeiro é o mês mais frio, com médias entre 5,2 °C e 15,9 °C e os verões são muito quentes. Julho possui as medias mais altas, entre 19,4 °C e 35,3 °C e todos os anos superam-se os 40° em varias ocasiões. As temperaturas extremas registadas na estação meteorológica do Aeroporto de Sevilha foram de -5,5 °C, em 12 de Fevereiro de 1956 e 46,6 °C, em 23 de Julho de 1995. Há um recorde não homologado pelo Instituto Nacional de Meteorologia que é de 47,2 °C em 1 de Agosto de 2003. As precipitações são de 534 mm por ano, concentradas de Outubro a Abril. Dezembro é o mês mais chuvoso, com 95 mm. Há 52 dias de chuva por ano, 2.898 horas de sol e 4 dias de leve possibilidade de gelo.


Sevilha foi sede da Expo 92, Mas, muito antes disso, sediou a primeira Exposição Iberoamericana, em 1929, da qual ficou Praça de Espanha. Da Expo'92, permanecem parte das instalações que foram reconvertidas no parque tecnológico mais importante da Andaluzia, o parque temático "Isla Mágica" e a monumental ponte do Alamillo sobre o rio Guadalquivir do arquitecto Santiago Calatrava. Destaca-se na actualidade a realização das obras do Metro de Sevilha. Esses e outros eventos deram a cidade toques de modernidade como amplas avenidas e parques com muitas arvores.


estive lá no domingo de Páscoa. Sem dúvida alguma, a principal festa de Sevilha é a Semana Santa, na qual 59 irmandades desfilam pelas suas ruas, saindo dos diversos templos até à "Carrera Oficial" (percurso oficial obrigatório para todas), que começa na Campana e finaliza ao sair da Catedral, onde se realiza a estação de penitência. Um terço da população participa nas confrarias como irmãos da luz, "costaleros" ou membros de uma banda.

Igualmente destacável é a "Feria de Abril", festa de carácter folclórico que reúne cada ano milhares de pessoas vindas de toda Espanha (e não só) no recinto "ferial". São típicas as "casetas" (barracas com forma de tendas) onde as pessoas se reúnem para cantar e dançar sevilhanas e flamenco. Durante a semana de "feria" realizam-se uma série de touradas de fama nacional, na conhecida praça de touros de Sevilha "La Maestranza". Um dos destaques da cidade é a Catedral, considerada uma das maiores do mundo, as torres, o museu das carruagens.